terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Não existe verdade absoluta



Face de Espelho


Há muitos anos vivia na Índia um rei sábio e muito culto. Já havia lido todos os livros do reino. Seus conhecimentos eram numerosos como os grãos de areia do rio Ganges.Muitos súditos e ministros, para agradar o rei, também se aplicaram aos estudos e as leituras dos velhos livros. Mas viviam disputando entre si quem era o mais conhecedor, inteligente e sábio. Cada um se arvorava em ser o dono da verdade e menosprezava os demais.
O rei se entristecia com essa rivalidade intelectual. Resolveu, então, dar-lhes uma lição. Chamou-os todos para que presenciassem uma cena no palácio. Bem no centro da grande sala do trono estavam alguns belos elefantes. O rei ordenou que os soldados deixassem entrar um grupo de cegos de nascença.
Obedecendo às ordens reais, os soldados conduziram os cegos para os elefantes e guiando-lhes as mãos, mostraram-lhes os animais. Um cego agarrou a perna de um elefante; outro segurou a cauda; outro tocou a barriga; outro, as costas; outro apalpou as orelhas; outro a presa; outro, a tromba.
O rei pediu que cada um examinasse bem, com as mãos, a parte que lhe cabia. Em seguida, mandou-os vir à sua presença e perguntou-lhes:
-Como se parece um elefante?
Começou uma discussão acalorada entre os cegos.
Aquele que agarrou a perna respondeu:
-O elefante é uma coluna roliça e pesada.
-Errado!- interferiu o cego que segurou a cauda.- O elefante é tal qual uma vassoura de cabo maleável.
-Absurdo!-gritou aquele que tocou a barriga. –È uma parede curva e tem a pele semelhante a um tambor.
-Vocês não perceberam nada- desdenhou o cego que tocou as costas-O elefante parece uma mesa abaulada e muito alta.
-Nada disso!-resmungou o que tinha apalpado as orelhas- É como uma bandeira arredondada e muito grossa que não pára de tremular.
-Pois eu não concordo com nenhum de vocês- falou alto o cego que examinara a presa. –Ele é comprido, grosso e pontiagudo, forte e rígido como os chifres.
-Lamento dizer que todos vocês estão errados- disse com prepotência o que tinha segurado a tromba. – O elefante é como a serpente, mas flutua no ar.
O rei se divertiu com as respostas e virando-se para seus súditos e ministros, disse-lhes:
- Viram? Cada um deles disse a sua verdade. E nenhuma delas responde corretamente a minha pergunta. Mas se juntarmos todas as respostas poderemos conhecer a grande verdade. Assim são vocês:cada um tem sua parcela de verdade.Se souberem ouvir e compreender o outro e se observarem o mundo de diferentes ângulos, chegarão ao conhecimento e à sabedoria. (Conto do Budismo chinês, “Face-de-Espelho”, recontado pela autora. In:HOLANDA,A. B. Mar de Histórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1980.v 1)

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