quinta-feira, 7 de maio de 2009

MAHURA, A JOVEM QUE TRABALHAVA DEMASIADO


Nesse tempo, o Céu vivia na Terra. As Nuvens, suas filhas, turbilhonavam (agitavam-se) e volteavam junto do solo, prendendo-se aos ramos das acácias. A sua filha Chuva gostava de molhar as pessoas do alto de grandes palmeiras e o seu maior prazer era juntar-se às alegres águas dos rios. A Terra e o Céu prestavam pequenos serviços um ao outro, como bons vizinhos. Por exemplo, quando a seca era prolongada, a Terra dirigia-se diretamente ao Céu, pedindo-lhe que regasse os campos e dessedentasse (matasse a sede) os animais. E o Céu enviava-lhe a Chuva...
Mas, um dia, a Terra teve uma filha, Mahura.

Tão inteligente como bela, só tinha um defeito: trabalhava demasiado. Todas as noites, à mesma hora, Mahura tirava o almofariz (recipiente em que se trituram substâncias sólidas; pilão) da cubata (choupana coberta de folhas) materna e punha-se a esmagar grãos de milho e as raízes de mandioca. E trabalhava, trabalhava, trabalhava incansavelmente. Mas o pilão era comprido, tão comprido que, cada vez que ela o erguia, ele batia dolorosamente na cabeça do Céu.

- Oh, desculpa, Céu! – escusava-se (desculpava-se) ela. – Fazes o favor de te afastar um pouco? Não tenho espaço suficiente para o meu pilão!
E o Céu, resmungando e a esfregar o alto que ela lhe fizera na testa, erguia-se um pouco.
Mahura continuava a trabalhar. Uma, duas, três pancadas de pilão! Tuc, Tuc, Tuc.
- Ah, desculpa, Céu! – exclamava a bonita jovem, continuando a sua tarefa. – Queres afastar-te um pouco mais?
E o Céu erguia-se mais um pouco, tão furioso como embaraçado (envergonhado): realmente, que se poderia fazer a uma rapariga que trabalha com tanto entusiasmo?
E Mahura continuava a esmagar os grãos. E quanto mais pilava, mais o pilão batia no Céu, que, cada noite, se afastava mais, levando com ele as engraçadas Nuvens e a Chuva, que chorava, chorava continuamente...
E todos os dias acontecia a mesma coisa. O Céu já estava desesperado! A sua testa estava cheia de nódoas (manchas) negras e altos, feitos pelo pilão de Mahura.
Um dia, o Céu decidiu acabar com aquilo. Tinha acabado de receber uma pancada que o havia aborrecido muito.

- Está decidido, vou abandoná-la. Fiquem com a vossa Terra para vocês! À fé de quem sou (por minha honra), juro que o pilão não voltará a bater-me. Adeus!
E, chamando os milhares de pequenas Nuvens e a Chuva, desolada por abandonar os rios e os charcos, o Céu subiu, subiu tão alto que a Terra ficou preocupada: iria desaparecer?
Quanto a Mahura, continuou, junto de sua mãe, a trabalhar com o almofariz e o pilão, a esmagar os grãos e as raízes de mandioca. No entanto, chegou o dia em que sentiu falta do Céu. As Nuvens cumprimentavam-na de muito longe e a Chuva já não conversava, cansada de cair de tão alto. Então Mahura pretendeu fazer-se perdoar: tirou do leito do rio uma pepita de ouro e arrancou de uma caverna um pedaço de prata. À pepita deu o nome de Sol e à prata o de Lua. Depois atirou-os muito, muito alto, com mensagens de amizade para o Céu.
Se não acreditam nesta história, levantem a cabeça numa noite de Verão: podem verificar que as estrelas, tão brilhantes no firmamento, não são mais que cicatrizes das pancadas que Mahura deu na cabeça do Céu!
Além disso, não se diz que a Lua brilha tanto como a prata e o Sol como o oiro?Mas o Céu nunca mais voltou à Terra!...

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